Apesar de tentador, não podemos reduzir a eficácia de instalação de um hábito simplesmente às repetições sem levarmos em conta uma série de fatores psíquicos importantes
Podermos considerar o hábito como o primeiro passo para todos nós que queremos nos tornar melhores pais e seres humanos, mas precisamos nos manter firmes para não ceder à tentação de acreditar que apenas os hábitos sejam suficientes para transformar o que desejamos
Perceba como é comum tentarmos incluir um hábito, e mesmo depois de bastante tempo perseverando, o hábito acaba simplesmente desaparecendo de nossas rotinas.
Iniciamos dietas, pagamos mensalidades de academias, entre muitos outros exemplos, que poderiam ilustrar bem como um hábito, mesmo repetido por um bom período, acaba dissolvendo-se sem qualquer explicação aparente.
Disse “aparente”, porque na verdade existem explicações e elas variam de caso para caso.
Instalar um hábito de alimentação saudável em uma pessoa que acaba de perder seu pai em decorrência de um infarto terá muito mais intensidade psíquica envolvida que em outra pessoa que não passou por qualquer experiência como essa.
Ou ainda, alguém que deseja perder o hábito de fumar por ter um caso de doença recentemente ligado ao tabagismo.
O próprio tabagismo pode ser um bom exemplo de que em uma determinada atividade, existem bem mais partes envolvidas do que imaginamos. O hábito de fumar está associado, na grande maioria das vezes, com uma dependência química vinculada à nicotina, fugas e bengalas psicológicas, e toda uma ancoragem de prazer que alguns fumantes depositam ao fumo.
Muitas vezes os fumantes associam o tabaco ao cafezinho, aos momentos de descontração e alegria. O tabaco acaba também por tornar-se uma âncora de prazer, o que dificulta ainda mais a remoção desse hábito.
Falar de ancoragem ligada ao hábito nos abre uma janela para falarmos da “gênese”, ou seja, de como um hábito padrão pode ser constituído.
Um hábito, em sua essência, possui um mapeamento resumido que envolve um gatilho, uma rotina e uma ou mais recompensas.
O gatilho é aquilo que nos leva à prática do hábito, no caso do tabaco que mencionamos, o café poderia ser um gatilho para o ato habitual de fumar.
A rotina é o que nós de fato fazemos, isto é, o ato de acender o cigarro, fumar, tragar e despojar as cinzas. Essa é etapa do hábito que realmente desejamos inserir ou remover.
O prêmio ou recompensa. É a fatalidade da ação, ou seja, o que realizar determinada rotina nos traz de sensação ou conquista, por exemplo. Essa nomenclatura precisa ser alterada para “dano” ou “prejuízo”, quando sua intenção for remover um hábito.
Então para facilitar, sempre que falarmos em algum hábito, recorde desses 3 integrantes essenciais. Como já mencionei existem mais coisas presentes em um hábito, mas vamos falar delas sempre associadas, de alguma forma, a esse trio.
A partir daqui já começaremos a abrir nossos horizontes e vamos pontuar 6 regras para serem observadas sempre que pensar em instalar ou remover um novo hábito:
- O hábito está vinculado basicamente ao nível neurológico de ambiente, ou seja, quando e onde. É o nível de menor intensidade dos níveis neurológicos. Isso explica porque é equívoco adotarmos estratégias vinculadas apenas aos hábitos. Apesar disso, podemos dizer que um hábito pode se tornar um facilitador para que outros níveis neurológicos sejam acionados.
Geralmente um hábito positivo acaba agregando outros hábitos associados e interligados. No caso de uma dieta, a recompensa de perder peso e sentir-se melhor lhe dará mais energia, e então você pode ter muito mais facilidade para iniciar uma outra atividade física habitual.
Hábitos como esses ligados ao bem estar e saúde, terão grande influência para que você fortaleça “crenças” vinculadas à necessidade de cuidar de seu corpo.
Posso citar outro caso atendido por mim onde uma mulher conseguiu eliminar muito peso através de uma reeducação alimentar, e então conseguimos “subir” para o nível neurológico da “transcendência” porque começou a fazer palestras e ensinar para outras pessoas como podiam eliminar peso através da alimentação saudável. Esse é um exemplo excelente de como hábitos podem ser usados para vincularmos outras estratégias neurológicas.
- Um hábito nunca está só. Isso mesmo, podemos não perceber, mas muitas das coisas que fazemos estão absolutamente relacionadas. É preciso sempre ter uma visão clara do que a inclusão ou remoção de um hábito pode impactar em sua rotina prática.
Podemos usar esse mesmo exemplo da reeducação alimentar. A instalação de um hábito como esse pode ser um fator de isolamento ou mudança de grupo de convivência. Imagine que o programa predileto de seus amigos seja reunirem-se para confraternizações repletas de guloseimas.
Não é que você não consiga permanecer no mesmo grupo, mas precisa avaliar o impacto que cada novo hábito trará ao seu mundo como um todo. Na PNL (Programação Neurolinguística), costumamos chamar isso de verificação ecológica.
Ou então, remover um hábito como o de jogar futebol com seus amigos 3 vezes por semana com o intuito de ficar mais tempo com a família em casa, poderá levar ao ganho de peso e perda de saúde se uma outra atividade física não for inserida em sua rotina.
- Quanto maior é a recompensa ou dano, mais fácil será para incluir ou remover um hábito. Assim, quando desejamos incluir ou remover um hábito, não podemos esquecer de potencializar ao Máximo a racionalização de todo bem e todo mal gerado por ele.
Se o ato de fazer algo novo não lhe trouxer um bom benefício, será difícil você implantar essa ação como um hábito. Às vezes direcionamos muita energia para incluir um novo hábito que nos traz muito pouco benefício se compararmos com outro hábito que poderia ter nossa energia depositada.
Caso sua reeducação alimentar não traga redução de peso em alguns dias, provavelmente você abandonará essa rotina.
- Nunca tente instalar um hábito que esteja incongruente com os demais níveis neurológicos. Ele precisa estar congruente principalmente com os níveis mais superiores. Se você quiser perder peso e ganhar saúde através de uma reeducação alimentar, vai ser muito difícil manter esse hábito se tiver uma crença de que ser feliz é comer somente o que gosta. Percebe a complexidade? Tratando-se da remoção de hábitos destrutivos, saber isso é muito mais importante porque crenças limitantes estão diretamente ligadas a eles.
Realizar algo constantemente que não esteja congruente com suas crenças, missão e transcendência, vai causar conflitos importantes. Esses conflitos são grandes “furtadores” de energia.
Sempre vai prevalecer em seu sistema psíquico, as rotinas vinculadas aos níveis neurológicos mais superiores e associadas à maior carga emocional.
- Os hábitos não estão ligados necessariamente a uma rotina diária. É possível termos hábitos apenas em um determinado dia ou contexto. No domingo, muitos costumam ler o jornal impresso, outros preferem cozinhar somente nos finais de semana. A ideia dessa regrinha é que saiba que os hábitos realizados estão muito mais ligados ao gatilho qualitativo que à manutenção de sua repetição diária sequencial. Não são bem os hábitos que são diários ou semanais, são os gatilhos que são temporais, isto é, sempre que o gatilho for acionado, o hábito será apresentado.
Assim, dos 40% de nossas ações habituais diárias, muitas não ocorrem todos os dias. Alias, é bem possível que se você joga cartas com um grupo de amigos apenas uma vez por mês, já há bastante tempo, os hábitos vinculados a esse momento somente serão executados nesse contexto, e fatalmente se ficar uns bons meses sem jogar, quando retornar o hábito será repetido.
Isso explica porque muitas pessoas só fumam quando estão jogando. Nesse caso o tabaco está inserido apenas como hábito, possivelmente ancorado nas sensações vinculadas ao jogo e sem a dependência química.
Lembre-se que nosso inconsciente trabalha de forma simbólica e não respeita cronologia, definindo ações por qualidade e intensidade.
- A repetição e a intensidade são mães do hábito. Como falamos no início desta etapa, os hábitos são a maneira frequente como agimos. Portanto, para falarmos de hábito temos que falar da repetição.
Quando algum comportamento se repete, o cérebro cria vias sinápticas mais rápidas, de maneira que uma ação aciona a ação seguinte, de forma quase automática.
A pergunta que todos querem saber: “quanto tempo preciso repetir uma ação para que se torne um hábito?”
A resposta não é conclusiva infelizmente. Agora você já sabe que existem muitas variáveis relacionadas aos hábitos. As principais nós resumimos nessas regras, como a da repetição e da intensidade.
Seguindo as considerações de Charles Duhhig, autor do Best seller “O Poder do Hábito”, são necessários 21 dias de repetição de uma ação para que ela se torne um hábito. Claro, como já dissemos, existe a individualidade de cada um, que leva a uma variação.
Mas nós fomos além e, segundo o estudo de Phillipa Lally, pesquisador de psicologia da saúde na University College London, publicado no European Journal of Social Psychology, ficou evidenciado que a partir de 18 dias consegue-se instalar ou mudar um hábito. Nessa pesquisa também ficou esclarecido que o tempo pode variar dependendo da pessoa, do comportamento e circunstâncias. Agora eu estou certo que você já sabe por quê.
Nesse estudo, o tempo médio foi de 60 dias para um comportamento tornar-se automático.
Isso já é suficiente para desmistificar teses muito simplistas e mais focadas em vender do que ajudar propriamente, que definem os 21 dias como regra.
Desta forma, nos próximos posts vamos sugerir receitas para inclusão ou remoção de hábitos seguindo uma estratégia capaz de reduzir muito o tempo necessário para automatização.
Texto extraído e adaptado do Livro “ Formando Seres Integrais” de Renato Lessa Pereira
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