Agora que já falámos das regras que consideramos importantes para nosso contato com os hábitos, gostaríamos de falar sobre três peças fundamentais para instalar ou remover um hábito: a motivação, a força de vontade e a alavanca emocional.
Motivação
Quando falamos da motivação, nos remetemos prontamente para a recompensa ou dano. Como o próprio nome já diz, motivação = motivo + ação. Ou para muitos, o motivo da ação.
Focarmos uma atenção maior à motivação é darmos importância ao motivo que vai gerar um determinado hábito.
Pelos estudos do comportamento humano, foram detectadas basicamente duas esferas motivadoras para nossa espécie, uma delas ligada à recompensa que algo pode nos trazer e a outra ao “medo” do dano que algo pode gerar.
Tratando-se o medo, como já vimos anteriormente na etapa dos 4 cérebros, de uma das emoções mais básicas, primitivas e ligadas à sobrevivência, podemos justificar porque um grande número, para não dizer a maioria das pessoas, motiva-se a fazer algo pelo medo de sofrerem algum impacto negativo.
Em pesquisas realizadas, quando pessoas foram perguntadas, por exemplo, por que dirigiam dentro do limite de velocidade ou por que pagavam impostos, as respostas da esmagadora maioria foram relacionadas ao “medo” de serem multadas ou de serem presas por sonegação.
Assim, podemos concluir que o medo é um fator poderosíssimo utilizado como motivador, e não podemos desperdiça-lo. Se usarmos com critério e prudência, poderemos potencializar muito as chances de inserir um hábito novo sem criarmos bloqueios.
A outra esfera é a da recompensa. As pessoas que responderam que dirigiam dentro do limite de velocidade e pagavam seus impostos porque era mais seguro e recebiam benefícios em troca, respectivamente, estavam motivados pela esfera da recompensa positiva.
Mas por que estamos falando sobre isso agora?
Primeiro, porque quero deixar claro para você que sabermos quais são as duas esferas motivadoras, nos dará clareza para planejarmos como inserir ou remover um determinado hábito.
Segundo, porque é possível usarmos as duas esferas, tanto o medo quanto a recompensa para garantirmos potência máxima na inserção ou remoção de um hábito, essa é a grande “sacada”.
A Força de vontade
Dizemos com frequência que falta força de vontade para realizarmos algo. E não estamos errados de fato.
Nos estudos da neurociência, percebeu-se que a área envolvida diretamente com a “força de vontade” é o córtex pré-frontal.
É nessa área que nossos sistemas de planejamento e direcionamento de energia para alcançarmos nossos objetivos estão associados.
A informação que temos para contribuir com esse aspecto fundamental na inserção ou remoção de hábitos é que devemos pensar que a “força de vontade” funciona como um músculo.
Quanto mais treinamos, maior e mais forte ela se torna.
Outro detalhe importante é que sempre que conseguimos realizar algo, nosso “sistema de força de vontade” se fortalece, servindo de fermento para a autoestima e autoconfiança.
Trata-se de um componente tão importante quanto a motivação, talvez até mais importante. É difícil definirmos quais são os limites de atuação e intersecção entre a motivação e a força de vontade.
Sabemos que a motivação nos auxilia a exercermos a força de vontade, mas também sabemos que sem a força de vontade dificilmente uma motivação é suficiente para gerenciarmos nosso conjunto de hábitos.
Muitos estudos já apresentam resultados muito promissores e benéficos ligados ao hábito da meditação. Após semanas de prática diária, as regiões corticais cerebrais ligadas ao controle, planejamento, vontade, escolha e gerenciamento de ações e emoções sofreram alterações importantes, inclusive de massa.
Então, fica aqui mais essa dica, a meditação pode ser um “novo hábito” capaz de facilitar seu domínio sobre outros tantos hábitos que deseja adquirir ou mudar.
Alavanca Emocional
Não faz muito tempo, lembro-me de ter visto um comercial de televisão onde a família estava reunida para o café da manhã. Resumidamente, o pai escolhe o alimento mais saudável porque imagina sua filha (criança no comercial) casando-se no futuro.
É um perfeito exemplo de alavanca emocional, a escolha de um hábito mais saudável de um pai que deseja ver sua filha se casando no futuro. Tanto o casamento de sua filha como o medo de não chegar até aquela altura da vida, atestam as duas esferas da motivação.
Isso também serve para manusearmos com mais facilidade o sistema de crenças.
Não despreze o poder de uma boa alavanca emocional. Seja ela ligada a um desejo de prazer ou de proteção, uma alavanca emocional é como uma motivação ligada a uma ou às duas esferas que já falamos (recompensa ou medo), temperada com uma boa intensidade emocional capaz de acionar com maior facilidade nossa força de vontade.
Hora da receita sugerida para inserir hábitos construtivos e/ou desejados. Nessa receita utilizei o caso real de um executivo que me procurou para ajudá-lo em algumas dificuldades que estava enfrentando.
1.Defina claramente o hábito que deseja inserir e seu intervalo.
Ex. Meditar 10 minutos diariamente depois de almoçar.
2. Verifique o que em sua rotina poderá ser impactado e seria indesejado pela inserção desse novo hábito
Ex. ou precisar almoçar mais rapidamente e escolher alimentos mais leves, de fácil digestão
3. Cheque se em existe alguma crença limitante que possa impedir a instalação do hábito. Caso exista, retorne para a etapa das crenças limitantes e realize as estratégias de superação e inserção de crenças fortalecedoras.
Ex. Uma crença limitante foi detectada. Acreditava que meditação era coisa muito complicada e não podia pensar em nada durante a meditação. Realizei a técnica de inserção de crenças fortalecedoras. Pesquisei mais sobre meditação e descobri que não é uma atividade complicada, que não se trata de não pensar em nada e sim de perceber os pensamentos estando concentrado em minha respiração.
4.Defina claramente qual será a recompensa positiva vinculada ao hábito. (crença fortalecedora)
Ex. De acordo com as pesquisas cientificas, após algum tempo de prática meu cérebro estará mais desenvolvido e preparado especialmente nas áreas de controle de emoções, planejamento, memória e raciocínio. (repetiu essa crença motivadora sempre antes do exercício de imaginação)
5.Defina também um motivador ligado ao dano/prejuízo (medo)
Ex. Não fazer meditação pode me levar a um descontrole emocional e acabar reagindo de forma agressiva em meu ambiente de trabalho. Isso pode me levar a perder meu emprego. (repetiu essa crença motivadora sempre antes do exercício de imaginação)
6.Tente encontrar uma alavanca emocional que potencialize sua força de vontade
Ex. Meu filho. Quero ter mais calma e aprender a curtir os momentos que estou com ele de forma plena. (repetiu esse desejo sempre antes de realizar o exercício de imaginação).
7.Crie uma âncora com o estado interior similar ao estado gerado pela recompensa positiva
Ex. Criei uma âncora com estado interior de tranquilidade, paciência e calma.
8.Crie um gatilho que será a “deixa” para que o hábito seja lembrado e executado
Ex. Na mesa de meu escritório deixei uma almofada que costuma ser usada para meditação. Assim, sempre que retorno do almoço, VEJO a almofada e me dirijo à uma área de descanso na empresa onde posso realizar a meditação por 10 minutos.
9.Realize o exercício de imaginação associada e dissociada fazendo uso dos potencializadores, principalmente a “teatralização”. Sempre utilizando o gatilho criado nas técnicas de imaginação.
Ex. Fiz o exercício da imaginação associada e dissociada como se estivesse vivendo detalhadamente o momento que retorno do almoço, VEJO e pego a almofada, dirijo-me para a sala de descanso e faço a meditação. Quando atingi na imaginação o estado interior mais intenso de calma e tranquilidade, disparei a âncora já criada anteriormente com esses mesmos estados. Assim potencializei os estados e a própria âncora que já tinha sido criada. Realizei a teatralização da rotina que envolveria o hábito. (2x por dia em períodos diferentes durante 2 semanas)
10.Crie uma Afirmação específica vinculada ao gatilho, à rotina e à recompensa.
Ex. Estou me tornando cada vez mais calmo, paciente e tranquilo, porque sempre que retorno do almoço vejo minha almofada e me dirijo à sala de descanso onde realizo minha meditação. (10x seguidas por dia durante 2 semanas)
Sempre que finalizar sua meditação, dispare sua âncora criada para potencializa-la. Essa âncora poderá ser um importante aliado quando precisar de calma, paciência e tranquilidade em seu dia a dia.
IMPORTANTE: tudo que já vimos de técnicas e exercícios onde o foco era o ajuste
de comportamentos diretamente em nossos filhos, pode ser aplicado em você
mesmo! Então, aproveite todo o conhecimento que já tem. NÃO deixe de tomar
atenção a todas as regras e potencializadores de cada técnica. Essa é apenas
uma sugestão, você pode usar a criatividade e ao mesmo tempo em que trabalha na
inserção de um novo hábito desejado, pode utilizar todas as outras técnicas
também para o ajuste de comportamento de seu filho, como linguagem hipnótica,
hipnopedia, etc.
Texto extraído e adaptado do Livro “ Formando Seres Integrais” de Renato Lessa Pereira
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